Podemos delinear três principais níveis de linguagem: a linguagem
culta (ou variante-padrão), a linguagem
familiar (ou coloquial) e a linguagem popular.
A linguagem culta é utilizada pelas classes intelectuais
da sociedade e a variante de maior prestigia, é aquela ensinada nas escolas.
Sua sintaxe é mais complexa, seu vocabulário mais amplo e há nela uma absoluta
obediência à gramática e a língua dos escritores clássicos. A linguagem
coloquial é utilizada pelas pessoas que fazem uso de um nível menos formal,
mais cotidiano. Relativamente à linguagem culta, apresenta limitação vocabular,
revelando-se incapaz para a comunicação do conhecimento filosófico, cientifico,
artístico etc. Apresenta maior liberdade de expressão, sobretudo no que se
refere à gramática normativa. A linguagem popular é aquela utilizada por
pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade. Esse nível raramente aparece na forma
escrita e caracteriza-se como um subpadrão linguístico. Nele o vocabulário é
bem mais restrito, com muitas gírias, onomatopeias e formas gramaticalmente
incorretas (Oropa, pobrema, nós vai, nóis fumo, tauba, estauta, lâmpia, vi ela etc.). Não há, aqui, preocupação
com as regras gramaticais.
1. Língua Falada e Língua Escrita
O Português, como
qualquer outra língua, tem uma modalidade oral e uma modalidade escrita.
Trata-se, praticamente, de duas línguas com gramáticas diferentes, o que não
impede que certos textos escritos apresentem traços de oralidade ou que
determinadas realizações orais se pautem
pela gramática que rege a modalidade escrita. Costuma-se pensar, de forma ingênua,
que língua falada e o mesmo que língua popular. No entanto, ambas tem
variedades socioculturais, por isso confundir a língua falada com alguns poucos
níveis de realização da fala não tem sentido. Embora existam diferenças entre
as duas modalidades, seria mais apropriado dizer, segundo o linguista Antonio
Marcuschi, que há um continuum linguístico entre os
textos falados e os escritos. Assim, uma carta familiar conterá muitos traços
de oralidade, apesaro, tauba, estauta, de escrita; enquanto um discurso acadêmico,
por exemplo, se aproximara da língua escrita, apesar de falado. Na comparação
entre a língua falada e a língua escrita, podem-se perceber alguns traços
distintivos:
Língua falada: ocorre num ambiente
de interação social, face a face; entonação, gestos, olhares desempenham, ao
lado da língua verbal, um papel importante; caracteriza-se pela fragmentação (hesitações,
repetições, correções, truncamentos) e pelo envolvimento; e constituída por
jatos cujo comprimento e de aproximadamente sete palavras (quantidade de informação
que o falante consegue controlar na memória); ha preferência pela coordenação (situação
em que as unidades de pensamento são mais independentes).
Língua escrita: e um ato de produção
solitário, lento, planejado, que possibilita alterações; caracteriza-se pela integração
e pelo distanciamento; prefere a subordinação.
Ao lado dessas diferenças,
detectadas por linguistas por meio de estudos estatísticos, podemos acrescentar
estas outras:
1) a modalidade
oral, diferentemente da escrita, pressupõe o contato direto entre os falantes,
o que a torna mais concreta e econômica (porque os elementos a que se refere estão
presentes na situação do dialogo). Existe ainda na língua oral um jogo de
cadencias e pausas que da o ritmo a fala e auxilia na decodificação de
mensagem;
2) a modalidade
escrita não dispõe desse jogo de cadências e pausas que deve ser recriado pela pontuação
e pelos caracteres gráficos (maiúsculas, negrito, itálico etc.). Porque tem de
recuperar todos esses elementos, a língua escrita resulta menos econômica, mas
muito mais precisa que a fala. Somente a distinção entre as duas “línguas” nos
faz, senão aceitar, pelo menos entender certas construções da linguagem publicitária
decalcadas na modalidade oral, como: “A empresa que você fala com o dono”, em
lugar da forma gramaticalmente correta: “A empresa em que você fala com
o dono”. “Vem pra Caixa você também”, em lugar de “Venha para a Caixa você também”.
“Se liga no SBT”, em vez de “Ligue-se no SBT”. O conceito de erro está,
portanto, ligado ao padrão culto. Não
podemos nos esquecer de que em comunicação a questão não é de certo ou errado,
mas de adequação ao contexto sóciocomunicativo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário