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sábado, 23 de março de 2013

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS


Podemos delinear três principais níveis de linguagem: a linguagem culta (ou variante-padrão), a linguagem familiar (ou coloquial) e a linguagem popular.
A linguagem culta é utilizada pelas classes intelectuais da sociedade e a variante de maior prestigia, é aquela ensinada nas escolas. Sua sintaxe é mais complexa, seu vocabulário mais amplo e há nela uma absoluta obediência à gramática e a língua dos escritores clássicos. A linguagem coloquial é utilizada pelas pessoas que fazem uso de um nível menos formal, mais cotidiano. Relativamente à linguagem culta, apresenta limitação vocabular, revelando-se incapaz para a comunicação do conhecimento filosófico, cientifico, artístico etc. Apresenta maior liberdade de expressão, sobretudo no que se refere à gramática normativa. A linguagem popular é aquela utilizada por pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade. Esse nível raramente aparece na forma escrita e caracteriza-se como um subpadrão linguístico. Nele o vocabulário é bem mais restrito, com muitas gírias, onomatopeias e formas gramaticalmente incorretas (Oropa, pobrema, nós vai, nóis fumo, tauba, estauta, lâmpia, vi ela etc.). Não há, aqui, preocupação com as regras gramaticais.

1. Língua Falada e Língua Escrita
O Português, como qualquer outra língua, tem uma modalidade oral e uma modalidade escrita. Trata-se, praticamente, de duas línguas com gramáticas diferentes, o que não impede que certos textos escritos apresentem traços de oralidade ou que determinadas  realizações orais se pautem pela gramática que rege a modalidade escrita. Costuma-se pensar, de forma ingênua, que língua falada e o mesmo que língua popular. No entanto, ambas tem variedades socioculturais, por isso confundir a língua falada com alguns poucos níveis de realização da fala não tem sentido. Embora existam diferenças entre as duas modalidades, seria mais apropriado dizer, segundo o linguista Antonio Marcuschi, que há um continuum linguístico entre os textos falados e os escritos. Assim, uma carta familiar conterá muitos traços de oralidade, apesaro, tauba, estauta, de escrita; enquanto um discurso acadêmico, por exemplo, se aproximara da língua escrita, apesar de falado. Na comparação entre a língua falada e a língua escrita, podem-se perceber alguns traços distintivos:

Língua falada: ocorre num ambiente de interação social, face a face; entonação, gestos, olhares desempenham, ao lado da língua verbal, um papel importante; caracteriza-se pela fragmentação (hesitações, repetições, correções, truncamentos) e pelo envolvimento; e constituída por jatos cujo comprimento e de aproximadamente sete palavras (quantidade de informação que o falante consegue controlar na memória); ha preferência pela coordenação (situação em que as unidades de pensamento são mais independentes).

Língua escrita: e um ato de produção solitário, lento, planejado, que possibilita alterações; caracteriza-se pela integração e pelo distanciamento; prefere a subordinação.
Ao lado dessas diferenças, detectadas por linguistas por meio de estudos estatísticos, podemos acrescentar estas outras:
1) a modalidade oral, diferentemente da escrita, pressupõe o contato direto entre os falantes, o que a torna mais concreta e econômica (porque os elementos a que se refere estão presentes na situação do dialogo). Existe ainda na língua oral um jogo de cadencias e pausas que da o ritmo a fala e auxilia na decodificação de mensagem;
2) a modalidade escrita não dispõe desse jogo de cadências e pausas que deve ser recriado pela pontuação e pelos caracteres gráficos (maiúsculas, negrito, itálico etc.). Porque tem de recuperar todos esses elementos, a língua escrita resulta menos econômica, mas muito mais precisa que a fala. Somente a distinção entre as duas “línguas” nos faz, senão aceitar, pelo menos entender certas construções da linguagem publicitária decalcadas na modalidade oral, como: “A empresa que você fala com o dono”, em lugar da forma gramaticalmente correta: “A empresa em que você fala com o dono”. “Vem pra Caixa você também”, em lugar de “Venha para a Caixa você também”. “Se liga no SBT”, em vez de “Ligue-se no SBT”. O conceito de erro está, portanto,  ligado ao padrão culto. Não podemos nos esquecer de que em comunicação a questão não é de certo ou errado, mas de adequação ao contexto sóciocomunicativo.

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