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sábado, 23 de março de 2013

REGRAS GERAIS DE PONTUAÇÃO


Regras de pontuação

PONTO
Veja o que Moacyr Scliar, em Minha mãe não dorme
enquanto eu não chegar e outras crônicas, diz:
O HOMEM MADURO. NO PONTO
“Uma cambada de ladrões. Tem de matar.
Matar. Pena de morte.
O Jorge também. Cunhado também. Tem de matar. Esquadrão
da morte. E ponto final. (...)”
O ponto marca uma pausa completa. Serve para indicar o término de uma oração. O ponto marca também a passagem de um grupo a outro grupo de ideias, bem como encerra um enunciado completo.
Exemplos:
“Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre
foi a minha busca cega e secreta.” (Clarice Lispector, A paixão segundo GH.)
“Dizem que de médico e de louco todos nós temos um pouco.
Devia-se dizer ‘de médico, de louco e de repórter’ para
maior verdade do ditado”. (Érico Veríssimo, Viagem à aurora do mundo.)

PONTO-E-VÍRGULA
É um sinal intermediário entre o ponto e a vírgula; marca, portanto, uma pausa média. Usa-se quando a pausa não é tão longa ou a ideia tão conclusiva que mereça um
ponto, e nem tão curta para merecer apenas uma vírgula. Serve para:
a) separar, num período, as orações da mesma natureza
que sejam relativamente longas.
Exemplo:
“Como é fácil de verificar, os organismos vivos preferem, é claro, as temperaturas brandas e estão mais adaptados às reações delicadas. É por isso que bem compreendemos a importância da atmosfera primitiva, pesada da poeira dos planetesimais; ela como que acobertou a terra (segundo Chamberlin) contra a intensidade da radiação vinda do exterior e as desigualdades da radiação do interior”.
(Érico Veríssimo, Viagem à aurora do mundo.)
b) separar os diversos itens que compõem as leis, decretos, portarias, códigos etc.
Exemplo:
Código Brasileiro de Trânsito
Capítulo XVI
Das penalidades
Art. 256. A autoridade de trânsito, na esfera das competências estabelecidas neste Código e dentro de sua circunscrição, deverá aplicar, às infrações nele previstas, as seguintes penalidades:
I - advertência por escrito;
II - multa;
III - suspensão do direito de dirigir;
IV - apreensão do veículo;
V - cassação da Carteira Nacional de Habilitação;
VI - cassação da Permissão para Dirigir;
VII - frequência obrigatória em curso de reciclagem.

DOIS-PONTOS
Os dois-pontos assinalam uma pausa bem definida. Servem para marcar:
a) uma citação.
Exemplo:
Em seguida ele declarou: “Diga ao povo que fico!”.
b) uma enumeração explicativa.
Exemplo:
Cheguei de volta à escola e deparei com inúmeras novidades: as paredes pintadas de novo, as carteiras novas em folha, os professores rejuvenescidos, os alunos mais alegres
e inteligentes.
c) um esclarecimento, uma síntese do que foi dito.
Exemplos:
Existe apenas uma saída: estudar muito e passar no vestibular.
“Eu estava atingindo o que havia procurado a vida toda: aquilo que é a identidade mais última e que eu havia chamado de inexpressivo”. (Clarice Lispector, A Paixão Segundo GH.)

PONTO DE INTERROGAÇÃO
JUVENTUDE. A INTERROGAÇÃO
“Mas quem é que sou afinal? E o que é que eu quero? E o que é que vai ser de mim? E Deus, existe? (...) Mas por que é que tem pobres e ricos? Por que é que uns têm tudo e outros não têm nada? (...)”
(Moacyr Scliar. Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar e outras crônicas, 1995 p. 88-91)
O ponto de interrogação indica uma pergunta.
Exemplos:
Quem comeu o bolo que deixei aqui?
Quem é você, um homem ou um rato?
Atenção: Não se usa o ponto de interrogação em uma pergunta indireta. Veja estes casos:
Que horas são? (pergunta direta)
Diga-me quantas horas são. (pergunta indireta)

PONTO DE EXCLAMAÇÃO
O ponto de exclamação indica uma exclamação, em geral uma expressão de espanto, de surpresa, de alegria, de raiva, de dor, de súplica etc.
Exemplos:
Ai, que dor de dente!
Que susto! Você estava aí?
Normalmente é usado depois de interjeições e imperativos:
Exemplos:
Não suporto mais esse barulho. Saiam daqui!
Humm! Que delícia!

RETICÊNCIAS
As reticências marcam uma interrupção na frase e indicam que a ideia ficou em suspenso, não foi concluída. Expressam hesitação, dúvida, tristeza, alegria, sarcasmo e
outros sentimentos, bem como o corte da frase de um personagem pela interferência de outro.
Exemplos:
“Nos intervalos que nós chamávamos de vazios e tranquilos, e quando pensávamos que o amor parara...” (Clarice Lispector, A Paixão Segundo GH.)
“Não era pecado... Devia ficar alegre, sempre alegre, e esse era um gosto inocente, que ajudava a gente a se alegrar...” (João Guimarães Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga.)
“Macunaíma deitado na jangada lagarteava numa quebreira azul. E o silêncio alargando tudo...” (Mário de Andrade, Macunaíma.)
“– Deus está tirando o saco das minhas costas, mãe Quitéria! Agora eu sei que ele está se lembrando de mim...
– Louvor ao Divino, meu filho!” (João Guimarães Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga.)

ASPAS
As aspas servem para diversos fins:
a) marcar uma citação, uma frase dita por alguém.
Exemplos:
Nós sabemos, e os fabricantes de pneus também sabem, que os preços não devem cair excessivamente para não desestimular a produção dos seringais, disse Gerard Loyen,
vice-diretor-executivo da Inro. (O Estado de S. Paulo, 31/3/98.)
É melhor pagar um pouco mais, que correr o risco de ficar sem estoques no futuro, disse Attilio Scottie, diretor de Compras da Pirelli, em Milão. É preciso manter margens razoáveis de lucro aos agricultores para que eles não parem de produzir, acrescentou o especialista. (O Estado de São Paulo, 31/3/98.)
b) destacar um termo ou uma expressão.
Exemplos:
Estamos nos primeiros estágios da mudança do trabalho em massapara um altamente especializado trabalho de elite, acompanhada da crescente automação na produção
de bens e serviços. (Folha de S. Paulo, 2/11/97.)
Mas Luíza achava aquela música espalhafatona; queria alguma coisa triste, doce...
(Eça de Queirós, O primo Basílio.)
c) indicar palavras ou expressões estrangeiras.
Exemplos:
Domingo fomos comer uma boa paellana casa da Rose.
Ele se despediu com um sonoro chau amore mio.
d) indicar títulos de obras
Exemplos:
Adoro Macunaíma, de Mário de Andrade.
Fomos ao cinema ver Titanic.

PARÊNTESES
Os parênteses servem para intercalar, dentro de um texto, as indicações acessórias. Por exemplo:
a) uma explicação.
Exemplo:
“Espero que uma velhice tranquila – no hospital ou na cadeia, com seus longos ócios –, me permita um dia estudar com toda calma a nossa língua, e me penitenciar dos abusos
que tenho praticado contra a sua pulcritude. (Sabem qual o superlativo de pulcro? Isto eu sei por acaso: pulquérrimo! Mas não é desanimador saber uma coisa dessas?
Que me aconteceria se eu dissesse a uma bela dama: a senhora é pulquérrima? Eu poderia me queixar se o seu marido me descesse a mão?)
(Rubem Braga, Nascer no Cairo.)
b) uma reflexão, um comentário à margem.
Exemplos:
“Pessoalmente só merecereis o meu desprezo; porque “Juan” (ou ‘Vic’, ou ‘Parsifal’, ou ‘Dr. Cândido’?) (Rubem Braga, Eu, Lúcio de Santo Graal.)
“Tomei um quarto no Hotel Avenida em cima da Galeria Cruzeiro; mas à medida que a Galeria recuava no tempo (os bondes ainda passavam lá por baixo, eu podia ouvir seu ruído de meu quarto) e avançava na idade, completara na véspera 54 anos e não estava muito bem de saúde”. (Rubem Braga, Galeria Cruzeiro.)
“Sem falar neste relógio (quanto vale?), neste canivete preto, neste fumo de rolo e nesta vergonha na cara”. (Rubem Braga, Galeria Cruzeiro.)
c) referências a datas e indicações bibliográficas.
Exemplos:
“Das visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios”.
(Graciliano Ramos, Angústia.)
“Nestor Benício, dando tempo ao tempo ou imitando o irmão, continuava sem aparecer”.
(Osman Lins, O fiel e a pedra.)
d) indicar siglas.
Exemplos:
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os números do censo.
O PT (Partido dos Trabalhadores) vai participar das eleições.
e) para separar as rubricas, ou indicações cênicas, em textos dramáticos.
Exemplo:
Coro (no fundo, canto) – Enforcai os generais. Ao poste com os especuladores.
Roux – Viva a Revolução! (Os quatro cantores e outros pacientes colocam-se ao redor da banheira para uma apoteose. É erguida uma coroa de folhas)
Paciente (no fundo) – Marat, não queremos cavar nossas sepulturas!
(Cena da peça Perseguição e assassinato de Jean-Paul Marat, de Peter Weiss.)

COLCHETES
Colchetes servem para intercalar dados ou expressões já separados por parênteses.
Exemplos:
“Uma barata acordou um dia e viu que tinha se transformado num ser humano.”
(Luis Fernando Verissimo, A metamorfose [p.51].)
Os colchetes são usados com mais frequência nos trabalhos
de linguística e filologia, para indicar uma palavra transcrita foneticamente.
Exemplos:
pais [pays]
tarde [tardi]

TRAVESSÃO
O travessão é basicamente empregado em dois casos: nos diálogos, para indicar as falas dos interlocutores, e num texto, para isolar palavras ou frases.
Exemplos:
Que é isso?
Chouriço!
Conta o que é.” (Mário de Andrade, Macunaíma.)
“Os ingredientes são: uma porção de caos, duas de confusão e uma pobre mãe exausta – tudo misturado com um cão latindo e balões estourando”. (Luis Fernando Verissimo, Festa de aniversário.)

SÍNTESE DAS REGRAS GERAIS DE PONTUAÇÃO
Muitas vezes, uma pontuação errada muda todo o sentido de uma frase. Por isso, a melhor maneira de saber se estamos pontuando corretamente é reler sempre os textos que escrevemos, frase por frase, dando a entonação correta em cada uma delas. Aqui sintetizamos algumas regras gerais:
a) sempre colocar ponto no final de um período e das frases, mas apenas quando elas encerram uma ideia completa;
b) colocar vírgulas entre os diversos elementos de uma enumeração;
c) não separar por vírgula o sujeito do seu verbo e o objeto direto do seu verbo;
d) sempre que abrir aspas, parênteses ou colchetes, não esquecer de fechá-los em seguida;
e) sempre colocar entre aspas as citações textuais;
f) não colocar ponto-de-interrogação ao término de uma interrogação indireta, sim ponto-final;
g) sempre isolar os apostos por vírgulas;
h) usar apenas as vírgulas necessárias; seu excesso torna o texto truncado e sem ritmo.

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS


Podemos delinear três principais níveis de linguagem: a linguagem culta (ou variante-padrão), a linguagem familiar (ou coloquial) e a linguagem popular.
A linguagem culta é utilizada pelas classes intelectuais da sociedade e a variante de maior prestigia, é aquela ensinada nas escolas. Sua sintaxe é mais complexa, seu vocabulário mais amplo e há nela uma absoluta obediência à gramática e a língua dos escritores clássicos. A linguagem coloquial é utilizada pelas pessoas que fazem uso de um nível menos formal, mais cotidiano. Relativamente à linguagem culta, apresenta limitação vocabular, revelando-se incapaz para a comunicação do conhecimento filosófico, cientifico, artístico etc. Apresenta maior liberdade de expressão, sobretudo no que se refere à gramática normativa. A linguagem popular é aquela utilizada por pessoas de pouca ou nenhuma escolaridade. Esse nível raramente aparece na forma escrita e caracteriza-se como um subpadrão linguístico. Nele o vocabulário é bem mais restrito, com muitas gírias, onomatopeias e formas gramaticalmente incorretas (Oropa, pobrema, nós vai, nóis fumo, tauba, estauta, lâmpia, vi ela etc.). Não há, aqui, preocupação com as regras gramaticais.

1. Língua Falada e Língua Escrita
O Português, como qualquer outra língua, tem uma modalidade oral e uma modalidade escrita. Trata-se, praticamente, de duas línguas com gramáticas diferentes, o que não impede que certos textos escritos apresentem traços de oralidade ou que determinadas  realizações orais se pautem pela gramática que rege a modalidade escrita. Costuma-se pensar, de forma ingênua, que língua falada e o mesmo que língua popular. No entanto, ambas tem variedades socioculturais, por isso confundir a língua falada com alguns poucos níveis de realização da fala não tem sentido. Embora existam diferenças entre as duas modalidades, seria mais apropriado dizer, segundo o linguista Antonio Marcuschi, que há um continuum linguístico entre os textos falados e os escritos. Assim, uma carta familiar conterá muitos traços de oralidade, apesaro, tauba, estauta, de escrita; enquanto um discurso acadêmico, por exemplo, se aproximara da língua escrita, apesar de falado. Na comparação entre a língua falada e a língua escrita, podem-se perceber alguns traços distintivos:

Língua falada: ocorre num ambiente de interação social, face a face; entonação, gestos, olhares desempenham, ao lado da língua verbal, um papel importante; caracteriza-se pela fragmentação (hesitações, repetições, correções, truncamentos) e pelo envolvimento; e constituída por jatos cujo comprimento e de aproximadamente sete palavras (quantidade de informação que o falante consegue controlar na memória); ha preferência pela coordenação (situação em que as unidades de pensamento são mais independentes).

Língua escrita: e um ato de produção solitário, lento, planejado, que possibilita alterações; caracteriza-se pela integração e pelo distanciamento; prefere a subordinação.
Ao lado dessas diferenças, detectadas por linguistas por meio de estudos estatísticos, podemos acrescentar estas outras:
1) a modalidade oral, diferentemente da escrita, pressupõe o contato direto entre os falantes, o que a torna mais concreta e econômica (porque os elementos a que se refere estão presentes na situação do dialogo). Existe ainda na língua oral um jogo de cadencias e pausas que da o ritmo a fala e auxilia na decodificação de mensagem;
2) a modalidade escrita não dispõe desse jogo de cadências e pausas que deve ser recriado pela pontuação e pelos caracteres gráficos (maiúsculas, negrito, itálico etc.). Porque tem de recuperar todos esses elementos, a língua escrita resulta menos econômica, mas muito mais precisa que a fala. Somente a distinção entre as duas “línguas” nos faz, senão aceitar, pelo menos entender certas construções da linguagem publicitária decalcadas na modalidade oral, como: “A empresa que você fala com o dono”, em lugar da forma gramaticalmente correta: “A empresa em que você fala com o dono”. “Vem pra Caixa você também”, em lugar de “Venha para a Caixa você também”. “Se liga no SBT”, em vez de “Ligue-se no SBT”. O conceito de erro está, portanto,  ligado ao padrão culto. Não podemos nos esquecer de que em comunicação a questão não é de certo ou errado, mas de adequação ao contexto sóciocomunicativo.