Regras de pontuação
PONTO
Veja
o que Moacyr Scliar, em Minha mãe não dorme
enquanto eu não chegar e outras crônicas, diz:
O
HOMEM MADURO. NO PONTO
“Uma
cambada de ladrões. Tem de matar.
Matar.
Pena de morte.
O
Jorge também. Cunhado também. Tem de matar. Esquadrão
da
morte. E ponto final. (...)”
O
ponto marca uma pausa completa. Serve para indicar o término de uma oração. O
ponto marca também a passagem de um grupo a outro grupo de ideias, bem como
encerra um enunciado completo.
Exemplos:
“Vou
agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre
foi
a minha busca cega e secreta.” (Clarice Lispector, A paixão segundo GH.)
“Dizem
que de médico e de louco todos nós temos um pouco.
Devia-se
dizer ‘de médico, de louco e de repórter’ para
maior
verdade do ditado”. (Érico Veríssimo, Viagem à aurora do mundo.)
PONTO-E-VÍRGULA
É
um sinal intermediário entre o ponto e a vírgula; marca, portanto, uma pausa
média. Usa-se quando a pausa não é tão longa ou a ideia tão conclusiva que
mereça um
ponto,
e nem tão curta para merecer apenas uma vírgula. Serve para:
a)
separar, num período, as orações da mesma natureza
que
sejam relativamente longas.
Exemplo:
“Como
é fácil de verificar, os organismos vivos preferem, é claro, as temperaturas
brandas e estão mais adaptados às reações delicadas. É por isso que bem
compreendemos a importância da atmosfera primitiva, pesada da poeira dos
planetesimais; ela como que acobertou a terra (segundo Chamberlin)
contra a intensidade da radiação vinda do exterior e as desigualdades da radiação
do interior”.
(Érico
Veríssimo, Viagem à aurora do mundo.)
b)
separar os diversos itens que compõem as leis, decretos, portarias, códigos
etc.
Exemplo:
Código
Brasileiro de Trânsito
Capítulo
XVI
Das
penalidades
Art.
256. A autoridade de trânsito, na esfera das competências estabelecidas neste
Código e dentro de sua circunscrição, deverá aplicar, às infrações nele
previstas, as seguintes penalidades:
I
- advertência por escrito;
II
- multa;
III
- suspensão do direito de dirigir;
IV
- apreensão do veículo;
V
- cassação da Carteira Nacional de Habilitação;
VI
- cassação da Permissão para Dirigir;
VII
- frequência obrigatória em curso de reciclagem.
DOIS-PONTOS
Os
dois-pontos assinalam uma pausa bem definida. Servem para marcar:
a)
uma citação.
Exemplo:
Em
seguida ele declarou: “Diga ao povo que fico!”.
b)
uma enumeração explicativa.
Exemplo:
Cheguei
de volta à escola e deparei com inúmeras novidades: as paredes pintadas
de novo, as carteiras novas em folha, os professores rejuvenescidos, os
alunos mais alegres
e
inteligentes.
c)
um esclarecimento, uma síntese do que foi dito.
Exemplos:
Existe
apenas uma saída: estudar muito e passar no vestibular.
“Eu
estava atingindo o que havia procurado a vida toda: aquilo que é a
identidade mais última e que eu havia chamado de inexpressivo”. (Clarice
Lispector, A Paixão Segundo GH.)
PONTO DE INTERROGAÇÃO
JUVENTUDE.
A INTERROGAÇÃO
“Mas
quem é que sou afinal? E o que é que eu quero? E o que é que vai ser de mim? E
Deus, existe? (...) Mas por que é que tem pobres e ricos? Por que é que uns têm
tudo e outros não têm nada? (...)”
(Moacyr
Scliar. Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar e outras crônicas, 1995 p.
88-91)
O
ponto de interrogação indica uma pergunta.
Exemplos:
Quem
comeu o bolo que deixei aqui?
Quem
é você, um homem ou um rato?
Atenção:
Não se usa o ponto de interrogação em uma pergunta indireta. Veja estes casos:
Que horas são? (pergunta
direta)
Diga-me quantas horas são. (pergunta
indireta)
PONTO DE EXCLAMAÇÃO
O
ponto de exclamação indica uma exclamação, em geral uma expressão de espanto,
de surpresa, de alegria, de raiva, de dor, de súplica etc.
Exemplos:
Ai,
que dor de dente!
Que
susto! Você estava aí?
Normalmente
é usado depois de interjeições e imperativos:
Exemplos:
Não
suporto mais esse barulho. Saiam daqui!
Humm!
Que delícia!
RETICÊNCIAS
As
reticências marcam uma interrupção na frase e indicam que a ideia ficou em
suspenso, não foi concluída. Expressam hesitação, dúvida, tristeza, alegria,
sarcasmo e
outros
sentimentos, bem como o corte da frase de um personagem pela interferência de
outro.
Exemplos:
“Nos
intervalos que nós chamávamos de vazios e tranquilos, e quando pensávamos que o
amor parara...” (Clarice Lispector, A Paixão Segundo GH.)
“Não
era pecado... Devia ficar alegre, sempre alegre, e esse era um gosto inocente,
que ajudava a gente a se alegrar...” (João Guimarães Rosa, A hora e a
vez de Augusto Matraga.)
“Macunaíma
deitado na jangada lagarteava numa quebreira azul. E o silêncio alargando tudo...”
(Mário de Andrade, Macunaíma.)
“–
Deus está tirando o saco das minhas costas, mãe Quitéria! Agora eu sei que ele
está se lembrando de mim...
–
Louvor ao Divino, meu filho!” (João Guimarães Rosa, A hora e a vez de Augusto
Matraga.)
ASPAS
As
aspas servem para diversos fins:
a)
marcar uma citação, uma frase dita por alguém.
Exemplos:
“Nós sabemos, e os fabricantes
de pneus também sabem, que os preços não devem cair excessivamente para não desestimular
a produção dos seringais”, disse Gerard Loyen,
vice-diretor-executivo
da Inro. (O Estado de S. Paulo, 31/3/98.)
“É melhor pagar um pouco mais,
que correr o risco de ficar sem estoques no futuro”, disse Attilio
Scottie, diretor de Compras da Pirelli, em Milão. “É preciso manter
margens razoáveis de lucro aos agricultores para que eles não parem de produzir”,
acrescentou o especialista. (O Estado de São Paulo, 31/3/98.)
b)
destacar um termo ou uma expressão.
Exemplos:
Estamos
nos primeiros estágios da mudança do “trabalho em massa” para um
altamente especializado “trabalho de elite”, acompanhada da
crescente automação na produção
de
bens e serviços. (Folha de S. Paulo, 2/11/97.)
Mas
Luíza achava aquela música “espalhafatona”; queria alguma coisa
triste, doce...
(Eça
de Queirós, O primo Basílio.)
c)
indicar palavras ou expressões estrangeiras.
Exemplos:
Domingo
fomos comer uma boa “paella” na casa da Rose.
Ele
se despediu com um sonoro “chau amore mio”.
d)
indicar títulos de obras
Exemplos:
Adoro
“Macunaíma”, de Mário de Andrade.
Fomos
ao cinema ver “Titanic”.
PARÊNTESES
Os
parênteses servem para intercalar, dentro de um texto, as indicações
acessórias. Por exemplo:
a)
uma explicação.
Exemplo:
“Espero
que uma velhice tranquila – no hospital ou na cadeia, com seus longos ócios –,
me permita um dia estudar com toda calma a nossa língua, e me penitenciar dos
abusos
que
tenho praticado contra a sua pulcritude. (Sabem qual o superlativo de
pulcro? Isto eu sei por acaso: pulquérrimo! Mas não é desanimador saber uma
coisa dessas?
Que
me aconteceria se eu dissesse a uma bela dama: a senhora é pulquérrima? Eu
poderia me queixar se o seu marido me descesse a mão?)”
(Rubem
Braga, Nascer no Cairo.)
b)
uma reflexão, um comentário à margem.
Exemplos:
“Pessoalmente
só merecereis o meu desprezo; porque “Juan” (ou ‘Vic’, ou ‘Parsifal’, ou
‘Dr. Cândido’?) (Rubem Braga, Eu, Lúcio de Santo Graal.)
“Tomei
um quarto no Hotel Avenida em cima da Galeria Cruzeiro; mas à medida que a
Galeria recuava no tempo (os bondes ainda passavam lá por baixo, eu
podia ouvir seu ruído de meu quarto) e avançava na idade, completara na
véspera 54 anos e não estava muito bem de saúde”. (Rubem Braga, Galeria
Cruzeiro.)
“Sem
falar neste relógio (quanto vale?), neste canivete preto, neste fumo
de rolo e nesta vergonha na cara”. (Rubem Braga, Galeria Cruzeiro.)
c)
referências a datas e indicações bibliográficas.
Exemplos:
“Das
visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem,
sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios”.
(Graciliano Ramos,
Angústia.)
“Nestor
Benício, dando tempo ao tempo ou imitando o irmão, continuava sem aparecer”.
(Osman Lins, O fiel e a
pedra.)
d)
indicar siglas.
Exemplos:
O
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os
números do censo.
O
PT (Partido dos Trabalhadores) vai participar das eleições.
e)
para separar as rubricas, ou indicações cênicas, em textos dramáticos.
Exemplo:
Coro
(no fundo, canto) – Enforcai os generais. Ao poste com os especuladores.
Roux
– Viva a Revolução! (Os quatro cantores e outros pacientes colocam-se ao
redor da banheira para uma apoteose. É erguida uma coroa de folhas)
Paciente
(no fundo) – Marat, não queremos cavar nossas sepulturas!
(Cena
da peça Perseguição e assassinato de Jean-Paul Marat, de Peter Weiss.)
COLCHETES
Colchetes
servem para intercalar dados ou expressões já separados por parênteses.
Exemplos:
“Uma
barata acordou um dia e viu que tinha se transformado num ser humano.”
(Luis
Fernando Verissimo, A metamorfose [p.51].)
Os
colchetes são usados com mais frequência nos trabalhos
de
linguística e filologia, para indicar uma palavra transcrita foneticamente.
Exemplos:
pais
[pays]
tarde
[tardi]
TRAVESSÃO
O
travessão é basicamente empregado em dois casos: nos diálogos, para indicar as falas
dos interlocutores, e num texto, para isolar palavras ou frases.
Exemplos:
“–
Que é isso?
– Chouriço!
– Conta o que é.” (Mário de
Andrade, Macunaíma.)
“Os
ingredientes são: uma porção de caos, duas de confusão e uma pobre mãe exausta
– tudo misturado com um cão latindo e balões estourando”. (Luis Fernando
Verissimo, Festa de aniversário.)
SÍNTESE DAS REGRAS GERAIS DE PONTUAÇÃO
Muitas
vezes, uma pontuação errada muda todo o sentido de uma frase. Por isso, a
melhor maneira de saber se estamos pontuando corretamente é reler sempre os
textos que escrevemos, frase por frase, dando a entonação correta em cada uma
delas. Aqui sintetizamos algumas regras gerais:
a)
sempre colocar ponto no final de um período e das frases, mas apenas quando
elas encerram uma ideia completa;
b)
colocar vírgulas entre os diversos elementos de uma enumeração;
c)
não separar por vírgula o sujeito do seu verbo e o objeto direto do seu verbo;
d)
sempre que abrir aspas, parênteses ou colchetes, não esquecer de fechá-los em
seguida;
e)
sempre colocar entre aspas as citações textuais;
f)
não colocar ponto-de-interrogação ao término de uma interrogação indireta, sim
ponto-final;
g)
sempre isolar os apostos por vírgulas;
h)
usar apenas as vírgulas necessárias; seu excesso torna o texto truncado e sem
ritmo.
!
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